alea jacta est!

filosofia, literatura, tecnologia, cinema e impressões aleatórias sobre qualquer coisa.

23.9.02

faltam apenas 7 dias para o título deste blog começar a se justificar. vou precisar de muita criatividade daqui a 1 semana pra conseguir sobreviver num país como esse. nossa economia vai mal, obrigado. agora, o brasil só deslancha depois das eleições. depois das eleições, só deslancha depois que o novo presidente assumir. depois que assumir, vem o carnaval. depois a páscoa. e assim, quando o país já tiver se dado conta, já terão se passado 6 meses, 1 ano...

pra quem não sabe [ou não foi leitor de asterix na infância], o título desse blógui significa "a sorte está lançada". é mais ou menos como me sinto agora que vou deixar o instituto ethos, depois de um ano tocando um projeto internacional chamado forum empresa.

como o planeta está cada vez mais em prol das elites, em 1 semana estarei de volta ao pseudo mundo da globalização, onde você trabalha, não tem carteira assinada, nem férias e cada vez mais pobre. mas fui eu quem quis uma vida dinâmica no lugar de um emprego fácil... hehe

o henrique mandou agorinha pra mim esse [hehe] relógio português digital.

recomendo. comecei bem a semana vendo isso, hehe.

por outro lado...

quando cheguei em casa, meio sem esperança de salvar o domingo, descubro um filme que não tinha visto do atom egoyan, "o fio da inocência" [felicia´s journey].

o filme é lindo. conta a história de um psicopata gentil, que resolve ajudar a inocente felicia, uma irlandesa à procura de seu amado, emigrado para a inglaterra. recheado de pausas, num ritmo bem lento, introspectivo, nos mostra que mesmo por trás de um psicopata existe muitas vezes alguém bom, humano, e, claro, um conflito do passado mal resolvido. embora muita gente tenha achado chato, é menos óbvio do que "sinais", o que já foi um alívio.

na verdade o que poucas pessoas percebem [principalmente os americanos médios, que preferem filmes de ação, movimentados e acham que só isso é cinema] é que cinema é filosofia a 24 quadros por segundo. o que significa que cada obra é uma espécie de tratado sobre qualquer assunto ou ponto de vista. vc pode concordar, discordar ou achar irrelevante. claro, existem, filósofos e filósofos.

mas de qualquer forma, quando um filme é bom, nos leva a pensar, a refletir sobre algum aspecto da existência que nunca dantes havíamos cogitado. quando é ruim, nos revela a obviedade de que ler um bom livro ou conversar com os amigos é mais enriquecedor.

é por isso que o mundo precisa de mais filosofia. e mais filosofares pragmáticos. no fundo, o segredo para se viver bem é simples: crie algum sentido para a sua vida, trabalhe, tenha fé e melhore sempre que puder. e ame com sinceridade. ou então ignore. odiar, jamais. é muito atrasado.

simplista? nem tanto. sem dar 1 sentido à sua vida, ela se torna vazio. sem trabalho - além do óbvio sentido da busca pelo dinheiro e da satisfação por criar algo útil - o cérebro não funciona, nos sentimos entorpecidos, levados pela vida. sem fé [acreditar numa força maior do que nós, meras formiguinhas do cosmos], tudo fica mais nebuloso, já que o cartesianismo não dá conta do mundo cada vez mais complexo. sem evolução, qual o sentido da vida? melhor meditar no tibet...

é por essas e outras que ainda acho os ateus cartesianos e metidos d+... ficam se achando muito inteligentes, auto-suficientes... mas na hora do último respiro, todos somos iguais...

ontem acabei visitando o carandiru, um lugar em que o ar é pesado, feio, fétido. é impossível que alguém acredite que se pudesse reabilitar alguém ali - é + uma fábrica para criar revoltados, isso sim. o passeio valeu por conhecer uma dessas máquinas atrasadas [com direito a masmorra no pavilhão, que, claro, não pudemos ver] de animalização do ser humano. ainda bem que vai se tornar um parque, com centro cultural. espero que a energia do local não tumultue os planos da prefeitura.

dali, da prisão, rumei para o bairro da liberdade. uma espécie de metáfora para me recompor do impacto das jaulas.

pra arrematar, nada melhor que um filme sobre fé como "sinais", certo? errado. o shyamalan errou a mão feio no roteiro... em minha modesta opinião. o filme é um equívoco. a idéia inicial de trabalhar a história de alguém que perdeu a fé é muito boa, mas o roteirista/diretor se perde ao introduzir ets (isso mesmo, ets).

além de ter flagrado 2 cenas em que aparece o microfone. [respondam-me cineastas, isso é normal?. "hannibal" foi outro filme em que contei 8 cenas com o famigerado microfone de pendurado no topo da tela]. isso me irrita, porque na hora em que flagro o microfone, a cena [em alguns casos, o filme] perde sua magia...

não bastasse esse erro de projeção e/ou de fotografia, o filme termina com uma bela mensagem óbvia... e equívoca.

[agora, só leia daqui em diante, se já viu o filme: será q só 1 et pode fazer alguém recobrar sua fé na base da porrada? se existem civilizações mais adiantadas, e essa é, não deviam ser mais avançadas do ponto de vista espiritual também?

shyamalan, que faz uma pontinha no filme, está se achando muito... antes da hora. o filme lembra contato, et e contatos imediatos de terceiro grau. a abertura homenageia o maestro [?] bernstein, responsável pelas trilhas do mestre hitch. até aí tudo bem, mas em torno de "sinais" há mais marketing do que cinema propriamente dito.

aliás, vc já reparou como o marketing manda no mundo? nos últimos tempos temos sido invadidos por conceitos marqueteiros de todos os lados. marketing é bom pra posicionar seu produto nas prateleiras, mas pra vender um filme, um livro pode se virar contra o feiticeiro... porque o público fica esperando algo muito bom e depois de frustra com o verdadeiro produto. esse é o problema, aliás, de um trailler melhor que o filme.

pois é esse mesmo um dos maiores problemas de "sinais". embora shyamalan tenha enveredado pelo suspense, pelos filmes em que não há tiros e/ou explosões, me lembrou aqueles cantores que precisam lançar disco todo ano, mesmo que o reperório ainda não esteja lá essas coisas...

o cara é bom em manipular a platéia, criando bons climas de medo que lembram mesmo o hitchcock. mas deixou vários furos no roteiro.

o pablo villaça [no rotten tomatoes] em sua crítica sobre o filme, faz uma pergunta bem pertinente: não é estranho que uma espécie supostamente tão evoluída resolva invadir um planeta rico em um elemento que lhe faz tão mal?). hehe. bem colocado, pablo. o roteiro é falho demais. e bobo. para quem fez sexto sentido [bem bolado] e o menos legal corpo fechado, esse sinais ficou devendo.]

resumindo: se vc gosta mesmo de cinema, veja outro filme. deixe esse pra ver de graça na tv daqui a algum tempo. não recomendo.