alea jacta est!

filosofia, literatura, tecnologia, cinema e impressões aleatórias sobre qualquer coisa.

23.9.02

ontem acabei visitando o carandiru, um lugar em que o ar é pesado, feio, fétido. é impossível que alguém acredite que se pudesse reabilitar alguém ali - é + uma fábrica para criar revoltados, isso sim. o passeio valeu por conhecer uma dessas máquinas atrasadas [com direito a masmorra no pavilhão, que, claro, não pudemos ver] de animalização do ser humano. ainda bem que vai se tornar um parque, com centro cultural. espero que a energia do local não tumultue os planos da prefeitura.

dali, da prisão, rumei para o bairro da liberdade. uma espécie de metáfora para me recompor do impacto das jaulas.

pra arrematar, nada melhor que um filme sobre fé como "sinais", certo? errado. o shyamalan errou a mão feio no roteiro... em minha modesta opinião. o filme é um equívoco. a idéia inicial de trabalhar a história de alguém que perdeu a fé é muito boa, mas o roteirista/diretor se perde ao introduzir ets (isso mesmo, ets).

além de ter flagrado 2 cenas em que aparece o microfone. [respondam-me cineastas, isso é normal?. "hannibal" foi outro filme em que contei 8 cenas com o famigerado microfone de pendurado no topo da tela]. isso me irrita, porque na hora em que flagro o microfone, a cena [em alguns casos, o filme] perde sua magia...

não bastasse esse erro de projeção e/ou de fotografia, o filme termina com uma bela mensagem óbvia... e equívoca.

[agora, só leia daqui em diante, se já viu o filme: será q só 1 et pode fazer alguém recobrar sua fé na base da porrada? se existem civilizações mais adiantadas, e essa é, não deviam ser mais avançadas do ponto de vista espiritual também?

shyamalan, que faz uma pontinha no filme, está se achando muito... antes da hora. o filme lembra contato, et e contatos imediatos de terceiro grau. a abertura homenageia o maestro [?] bernstein, responsável pelas trilhas do mestre hitch. até aí tudo bem, mas em torno de "sinais" há mais marketing do que cinema propriamente dito.

aliás, vc já reparou como o marketing manda no mundo? nos últimos tempos temos sido invadidos por conceitos marqueteiros de todos os lados. marketing é bom pra posicionar seu produto nas prateleiras, mas pra vender um filme, um livro pode se virar contra o feiticeiro... porque o público fica esperando algo muito bom e depois de frustra com o verdadeiro produto. esse é o problema, aliás, de um trailler melhor que o filme.

pois é esse mesmo um dos maiores problemas de "sinais". embora shyamalan tenha enveredado pelo suspense, pelos filmes em que não há tiros e/ou explosões, me lembrou aqueles cantores que precisam lançar disco todo ano, mesmo que o reperório ainda não esteja lá essas coisas...

o cara é bom em manipular a platéia, criando bons climas de medo que lembram mesmo o hitchcock. mas deixou vários furos no roteiro.

o pablo villaça [no rotten tomatoes] em sua crítica sobre o filme, faz uma pergunta bem pertinente: não é estranho que uma espécie supostamente tão evoluída resolva invadir um planeta rico em um elemento que lhe faz tão mal?). hehe. bem colocado, pablo. o roteiro é falho demais. e bobo. para quem fez sexto sentido [bem bolado] e o menos legal corpo fechado, esse sinais ficou devendo.]

resumindo: se vc gosta mesmo de cinema, veja outro filme. deixe esse pra ver de graça na tv daqui a algum tempo. não recomendo.