alea jacta est!

filosofia, literatura, tecnologia, cinema e impressões aleatórias sobre qualquer coisa.

19.9.02

sábado, irei com amigos pra uma mostra curiosa: ver 111 [em homenagem ao massacre] portas pintadas nas celas do Carandiru. elas foram selecionadas pelo Siron Franco, aquele artista goiano. além de poder ver [e fotografar] as obras dos detentos, o interessante será entrar no que já foi o maior presído da américa latina.

espero que esta seja a única visita que faça a um presídio na vida... só conseguiria viver numa cela com livros, muitos livros...

liberdade é que nem luz ou H20: a gente só dá valor quando não tem.

[se bem que do jeito que o país está, tem muita gente que prefere o mundo da prisão do que viver aqui fora]


esse mundo dos blogs é muito mais interessante que a mídia em geral. e pelo menos ninguém tenta fazer a sua cabeça como se sua idéia fosse a melhor, a mais inteligente, a única. tem cada pessoa com cada idéia mais legal que a outra.

pra quem está à beira do trabalho aleatório [sacou agora o título do meu blog?, hehe] e sem carteira assinada, é bem interessante constatar que existe muita gente inteligente fora da grande mídia - até por uma questão infinita de vagas - fazendo coisas interessantes, não óbvias, ousadas e até inusitadas.

acabo de passar por um blog de um cara do mit que inventou o video blog, ou vlog, um blog que explora a relação entre a palavra e as imagens em movimento, com uma ênfase radical em noções de interatividade. seja lá o que isso queira dizer. ainda estou enveredando pelos textos do cara, mas o mais interessante são os links do blog que vão de cinema interativo a deleuze.

eu acredito na internet como uma saída interessante pra quem quer fazer cinema e não tem como distribuir. quer mais democracia que a rede?

com a internet como distribuidora, bastam uma câmera digital e um ótimo roteiro [leia-se uma história idem] e já temos um bom começo pra quem tem idéias mas não sabe por onde começar.

o exemplo mais famoso é a atomfilms, que tem curtas de todos os tipos, para todos os gostos.




PS: como ainda não deu tempo, a melhor forma de interagir é através do i1/2: luiz2k@uol.com.br.
não consegui ainda fazer upgrade por problemas bá$ico$.



cidade de deus, o filme, é aula de roteiro. vi a película, estou acabando o livro. só não comprei o disco porque ainda não o vi por aí. o livro é mais interessante pelos perfis que traça. o filme, pela porrada do que mostra.

"cidade" apresenta o que a má distribuição de renda, o mínimo salário e a vontade de ter uma vida materialmente decente fez com gente que foi esquecida, ignorada pelos macro-rumos dos economistas.

não se trata de fazer a defesa da criminalidade. mas que íamos chegar um dia ao ponto a que chegamos era apenas uma questão de tempo. afinal, está mais do que provado que salário mínimo só é bom no bolso dos outros - alguém aí consegue sobreviver com 200 reais?

"cidade" mostra com uma linguagem ágil [em algumas horas lembra tarantino] que deixamos essa massa de injustiçados soltos no mundo, relegados às novelas e propagandas televisivas, ao consumo como valor - compro, logo, existo.

criamos bichos-soltos. animais consumistas - que gostam de marcas de grife porque sabem que a roupa faz o homem - que acham que o dinheiro [e apenas ele] é que manda no mundo...

saí do cinema feliz pelo cinema nacional que a cada dia amadurece mais no estilo e no conteúdo. e triste por esses seres [des]humanos que nos metem medo na base do ferro. são justamente pessoas assim que matam por matar, ou por que discordam de você, ou porque você não tem dinheiro para que elas possam roubá-lo.

ou fazemos algo logo para incluí-los numa realidade mais justa ou vamos pagar o preço de só pensar na minoria. não acho que ninguém tem o direito de traficar pra ganhar a vida mais fácil, mas dá pra entender como uma mente tosca, sem acesso ao mínimo, pode imaginar que basta vender trouxas malhadas de cocaína ou maconha para trouxas para se ganhar dinheiro fácil.

a única chance é o estado assumir as drogas [elas sempre existiram, sempre existirão]. viciado teria carteirinha e direito a droga de qualidade. é claro que os traficantes voltariam a sequestrar, roubar e matar, mas sem todo esse poder paralelo que desafia o estado.

caso contrário, continuarão cada vez mais poderosos... e tornarão nossas vidas um inferno. se vc compra cannabis ou coca de algum, é cúmplice. se não compra, é apenas vítima do sistema que alimenta ou seja: vc ganha seu dinheirinho honestamente porque teve sorte. que pena, eles não tiveram... fácil...

não temos saída. ou tornamo-nos socialmente responsáveis ou nos culparemos eternamente pelo inferno que ajudamos a manter...