cidade de deus, o filme, é aula de roteiro. vi a película, estou acabando o livro. só não comprei o disco porque ainda não o vi por aí. o livro é mais interessante pelos perfis que traça. o filme, pela porrada do que mostra.
"cidade" apresenta o que a má distribuição de renda, o
mínimo salário e a vontade de ter uma vida materialmente decente fez com gente que foi esquecida, ignorada pelos macro-rumos dos economistas.
não se trata de fazer a defesa da criminalidade. mas que íamos chegar um dia ao ponto a que chegamos era apenas uma questão de tempo. afinal, está mais do que provado que salário mínimo só é bom no bolso dos outros - alguém aí consegue sobreviver com 200 reais?
"cidade" mostra com uma linguagem ágil [em algumas horas lembra tarantino] que deixamos essa massa de injustiçados soltos no mundo, relegados às novelas e propagandas televisivas, ao consumo como valor - compro, logo, existo.
criamos bichos-soltos. animais consumistas - que gostam de marcas de grife porque sabem que a roupa faz o homem - que acham que o dinheiro [e apenas ele] é que manda no mundo...
saí do cinema feliz pelo cinema nacional que a cada dia amadurece mais no estilo e no conteúdo. e triste por esses seres [des]humanos que nos metem medo na base do
ferro. são justamente pessoas assim que matam por matar, ou por que discordam de você, ou porque você não tem dinheiro para que elas possam roubá-lo.
ou fazemos algo logo para incluí-los numa realidade mais justa ou vamos pagar o preço de só pensar na minoria. não acho que ninguém tem o direito de traficar pra ganhar a vida mais fácil, mas dá pra entender como uma mente tosca, sem acesso ao mínimo, pode imaginar que basta vender trouxas malhadas de cocaína ou maconha para trouxas para se ganhar dinheiro fácil.
a única chance é o estado assumir as drogas [elas sempre existiram, sempre existirão]. viciado teria carteirinha e direito a droga de qualidade. é claro que os traficantes voltariam a sequestrar, roubar e matar, mas sem todo esse poder paralelo que desafia o estado.
caso contrário, continuarão cada vez mais poderosos... e tornarão nossas vidas um inferno. se vc compra cannabis ou coca de algum, é cúmplice. se não compra, é apenas vítima do sistema que alimenta ou seja: vc ganha seu dinheirinho honestamente porque teve sorte. que pena, eles não tiveram... fácil...
não temos saída. ou tornamo-nos socialmente responsáveis ou nos culparemos eternamente pelo inferno que ajudamos a manter...