alea jacta est!

filosofia, literatura, tecnologia, cinema e impressões aleatórias sobre qualquer coisa.

4.11.02

não é à toa q almodóvar e joão silvério trevisan têm muito em comum. foi um achado ter lido o livro do segundo e ter visto o filme do primeiro, nesta ordem.

a crise com que o homem [não a humanidade] se defronta hj por absoluta falta de identidade, de saber afinal o que é ser um homem, está bem esmiuçada no livro e bem resumida no filme.

homem não chora. homem sente dor na coluna. é vítima de infarto. homem não chora. no máximo, urra de dor.

essa tese d q homem não pode chorar acabou nos tornando vítimas daquilo que deveria nos reconfortar. o machismo, essa palavra tão em desuso, mas essa prática nada em desuso, nos deixou à mercê de um padrão que não existe.

trevisan percorre todos os meandros possíveis desse impasse. desde o amor de pai, não tocado, não realizado, passando pela homofobia mal resolvida, até chegar à violência.

e essa história de que homem não pode ter afeto por homem? quem foi que inventou esse absurdo?
deve ter sido a mesma pessoa q temia acabar homossexual por gostar de um amigo.

fico pensando nisso quando ainda me defronto com tanta homofobia. quanta bobagem! se o homossexual incomoda tanto assim um homem heterossexual, é porque ele não é tão heterossexual assim...

talvez quando ao homem for permitido ser sensível ao lado de outros homens, teremos menos infartos, menos dores na coluna... menos homofobia. afinal, as pessoas hj em dia cada vez menos aceitam esse ou aquele rótulo enquadrador. somos todos polissexuais. queremos ser felizes, não importa com quem.

esta é a tese que lateja no livro de trevisan. e é o que aprendi na vida.

almodóvar toca na ferida do choro. de forma tocante. usa a música brasileira para poetizar ainda mais essas nuances sentimentais.

o homem sensível [e não gay, pra fugir de esterótipos] q ele mostra é um homem q se permite ser frágil. talvez esse seja o segredo.

mas é bom lembrar que o machismo não começa com os homens. e sim com suas mães. pode ser desenvolvido do o parto até a adolescência. se rolar nessa fase, depois não haverá como impedir o atraso, só no próximo filho...