alea jacta est!

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10.10.02

as minorias e o [auto] preconceito

não sei quando saiu essa ótima crônica do anfré fischer sobre os candidatos glbt [gays/lésbicas/bis/transgêneros], mas é tão bem colocada q daria até uma pauta/entrevista interessante sobre o assunto.

com a palavra, andré fischer, um carioca q adotou sampa, e é diretor do mundo mix:

"o resultado das eleições trouxe uma triste notícia para a comunidade glbt. nenhum dos onze candidatos gays, lésbicas e travestis à câmara, senado e assembléias de todo brasil conseguiu se eleger.

"vale a pena fazer uma reflexão sobre os motivos dessa ausência de representação política de um grupo tão significativo da população. os evangélicos, que representam hoje cerca de 15% da população do país, já
conseguiram espaço proporcional ou maior do que esse no poder público devido a sua incrível capacidade de mobilização.

"a primeira possibilidade seria o preconceito internalizado: gays não votariam em gays simplesmente pelo fato de não respeitarem seus semelhantes. um exemplo da mais pura falta de auto-estima. já cansei de ver homossexuais detonando figuras públicas pelo simples fato de serem pintosos ou apenas gays - independente de quão espalhafatosos sejam. parece que para muitos gays é um defeito ser gay. o mesmo vale para lésbicas. os travestis, apesar de melhor organizados politicamente, são uma comunidade bem menor, com poucas possibilidades de sozinhos conseguirem votos suficientes para eleger alguém. além de serem estigmatizados pela própria comunidade gay.

"há ainda a enorme desinformação e desarticulação dos gays brasileiros em geral. conheço uma figura que chegou a votar em enéas apenas pela graça, sem saber que ele é um dos representantes de um dos mais conservadores e homofóbicos movimentos do brasil. isso sem contar no grupo de socialites gays que conheço, formado por malufistas e que votam em delfim neto.

"a outra possibilidade é que o discurso do movimento gay não esteja atingindo a comunidade. no final de semana anterior à eleição o candidato beto de jesus, em quem votei com muito orgulho, fez uma pequena intervenção na boate level. mesmo sendo uma figura querida por seu trabalho à frente da monumental parada gay de são paulo, foi recebido com uma estrondosa vaia.

"parar uma boate às 3h da manhã para um discurso seria realmente uma boa estratégia?

"o parceiro de luis mott, marcelo cerqueira, também foi outro candidato derrotado nas eleições. apesar do importante papel do ggb na articulação de uma política nacional para homossexuais junto ao governo federal, talvez o dia-a-dia dos homossexuais baianos não seja afetado o suficiente pelo grupo a ponto de dedicarem seu voto ao candidato.

"é fundamental avaliar as estratégias do movimento gay como um todo e até que ponto as sucessivas derrotas nos pleitos não estariam enfraquecendo posições. Em um país com mais de 30 partidos políticos poderia um candidato gay representar bem a comunidade como um todo ao optar por um deles, seja ele de direita, centro ou esquerda?

"nosso sistema político é bastante diferente do bipartidarismo norte-americano, onde existe uma clara tendência democrata pró-gay e republicanos contrários aos direitos civis de homossexuais. se há realmente
uma impossibilidade de conseguir espaço no legislativo, não seria melhor optar por outras vias de representação?

"essas questões merecem ser discutidas, mas não devem funcionar como uma sentença. apesar da frustração gerada pelo fraco desempenho de nossos candidatos nas urnas, é bom lembrar que nada acontece de um dia para o outro. a primeira parada gay de são paulo, em 1997, reuniu pouco mais que duas mil pessoas. Em sua última edição levou mais de 500 mil às ruas. não é hora de jogar a toalha, mas de se organizar para dar continuidade a um trabalho de conscientização dentro da própria comunidade. esse trabalho está
apenas começando.

"um gde [ ]
andré fischer
afischer@uol.com.br